dissertações

Depressão na adolescência: solidão e falta de rumo

       A depressão já é o maior problema de saúde entre os adolescentes em todo o mundo, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). Alguns fatores participam da formação desse quadro, principalmente solidão e ausência de ideologia.
       A solidão já é um fator visivelmente comum, pois convivemos com uma multidão de filhos únicos de pais que trabalham fora de casa. Nesse grupo estão incluídos os filhos de pais solteiros ou descasados.
       Entre 1960 e 2010, o índice de fecundidade caiu de 6,2 para 1,9 filhos por mulher. Nos anos 1990, uma em cada dez mães tinha apenas um filho. Em 2010, esse índice despencou para uma em cada três.
       O distanciamento dos pais na adolescência não é um fenômeno novo, porém isso acontecia menos compulsoriamente. Milhões de adolescentes hoje são abandonados aos amigos ou apenas colegas, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, quando são vítimas de bullying, por exemplo.
       Em poucos casos, a solidão leva o adolescente a “se virar” sozinho. Torna-se um indivíduo forte, competente, senhor de uma autoestima notável. Infelizmente, em poucos casos, porque em muitos, o adolescente não encontra forças suficientes para enfrentar as circunstâncias mais complicadas e naturalmente recua.
       Quando não conseguem conversar a respeito – porque os pais “nunca têm tempo” ou os problemas familiares inviabilizam o diálogo – tiram suas próprias conclusões com o que têm e o que têm é pouca experiência e conhecimento mínimo.
       O outro fator dos dois grandes causadores de depressão na adolescência – decorrente do primeiro e agravante – é a ausência de ideologia.

           Nas famílias em que os pais não oferecem um sentido para a vida da criança, o adolescente começa a tomar decisões sem saber para onde está indo. Sem ter uma ambição.
            Noutras épocas, havia um padrão social de comportamento para determinar o que era certo e o que era errado e ditar um destino para cada um de nós, mas esse padrão desmoronou a partir dos anos 1960, da Contracultura.
            Historicamente, os pais contavam com a força da Igreja, da Monarquia e da Burguesia para colocar os filhos “nos trilhos”. Havia uma moral coletiva, comum a todos os cidadãos, e policiada por todos. As revoluções estudantil e sexual e as liberdades individuais, no entanto, fragmentaram as sociedades modernas.
            A tribalização deixou muitos sem tribo. Adolescentes solitários e sem rumo. Porque dependiam de um grupo que lhes desse uma direção e uma moral. É como dividir uma sala de aula em equipes: alguns se incluem facilmente, até têm seus grupos pré-formados, enquanto outros precisam da ajuda do professor para se incluírem.
            As crianças precisam de adultos que lhes deem um sentido para a vida e uma moral que lhes garanta a conquista desse destino, para que não cheguem à adolescência perdidos. Adolescentes sozinhos e sem rumo recuam dramática e até tragicamente diante das exigências do mundo moderno.
            No decorrer da vida, no amadurecimento, os jovens que receberam uma ideologia e uma moral na infância fazem as alterações que julgam necessárias. Ótimo! Faz parte da construção da individualidade.

A diversidade cultural é imprescindível

     Além de não ser uma opção, a diversidade cultural é necessária e fundamental. É ingênuo querer que as pessoas tenham comportamentos semelhantes. Um amish, por exemplo, disse que, se vivêssemos um mês com ele no campo, adotaríamos o seu modo de vida.
     Besteira! As pessoas são diferentes. E precisam ser desiguais. O mundo precisa que as pessoas sejam distintas. Uns poderiam amar o estilo amish. E viveriam felizes no campo e na simplicidade. Alguns. Outros não veriam o menor sentido na negação da vida moderna.
     Ótimo! Ainda bem que somos diferentes e nos interessamos por coisas diversas. Se as pessoas todas fossem iguais a mim, quem se envolveria com circuitos elétricos e eletrônicos para inventar nossas máquinas de comunicação? Quem gastaria sua vida em meio a equações e experiências químicas para descobrir os medicamentos mágicos que aliviam nossas dores?
     Condenamos opiniões, comportamentos, profissões, crenças como se apenas as nossas atitudes fossem dignas, úteis ou importantes. Ignoramos que estamos considerando a realidade de um ponto de vista peculiar e exclusivo. Um profissional da área de segurança pública obviamente vê mais importância naquilo que faz justamente porque está envolvido nisso há tempos e o dia a dia traz a ele argumentos inquestionáveis que escancaram o valor da sua profissão.
     Existem, sim, ações ética, moral ou legalmente condenáveis, mas essas não devem ser vistas como diversidade cultural. Uma cultura se constrói com as soluções que encontramos para os nossos problemas e as celebrações que prestamos

as essas soluções, todas dentro dos limites da ética, da moral e da lei.
     Um vilão famoso nessa questão é a necessidade de autoafirmação. E ainda precisamos do aval dos outros para validar as nossas atitudes. Então reprovamos o comportamento do outro para não condenar o próprio, ou seja, se o outro está certo, eu estou errado? Em política, a coisa fica mais séria porque a opinião de quem alcança o poder vira prática, transforma-se em lei, deixa de ser apenas uma ideia.
     Talvez, contudo, o maior entrave que nos impede de festejar cotidianamente a diversidade seja a moral. Aquele conjunto de regras que nos levaria até o objetivo final de nossas vidas. O grande problema é que a moral de alguém pode permitir determinadas atitudes contra os outros. E instalar o caos social e intelectual.
     Também intelectual porque as convicções dos outros podem bagunçar nossas cabeças e então teríamos de rearranjá-la, mas relutamos porque isso não seria fácil: uma reorganização intelectual requer a revisão de uma quantidade enorme de conceitos; revisão que pode levar anos ou décadas.
     É irritante perceber o mundo caminha em direções estranhas aos nossos ideais. E toda essa irritação existe e se manifesta porque tratamos os meios como se fossem fins. A diversidade cultural, porém, não é o ideal da humanidade, é apenas um trecho do caminho para o mundo pacífico e justo que idealizamos.
     O melhor é estimular a dessemelhança. Faça o que eu não faço para que o mundo seja menos incompleto, que as nossas vidas sejam menos ingênuas e os nossos ideais estejam mais próximos.